Folha da Bahia

Monocultura de Eucalipto: Uma Ameaça ao Solo, à Biodiversidade e ao Desenvolvimento Sustentável

A monocultura de eucalipto, apesar de sua importância econômica, traz impactos ambientais e sociais devastadores. Cultivada em larga escala no Brasil, especialmente em terras planas e férteis, essa prática levanta preocupações significativas sobre desertificação, redução de biodiversidade, concentração fundiária e a perda de oportunidades de geração de emprego.

O eucalipto e a desertificação do solo

O eucalipto é uma espécie exótica, originária da Austrália, que se adapta bem ao solo brasileiro, mas exige quantidades elevadas de água e nutrientes. Por isso, seu cultivo massivo, sem a devida rotação ou diversificação de espécies, acelera a desertificação do solo. As raízes profundas e o crescimento rápido extraem muita água, contribuindo para a seca e esgotamento dos nutrientes do solo. O resultado é um terreno improdutivo e infértil, onde a vida se torna difícil tanto para outras plantas quanto para pequenos animais e microorganismos essenciais à saúde da terra.

Além do consumo exagerado de água, o eucalipto também libera substâncias alelopáticas, que inibem o crescimento de outras espécies ao seu redor. Isso cria uma verdadeira “terra de ninguém”, dificultando a recuperação do solo e o desenvolvimento de outras culturas, inclusive as de subsistência. Com o tempo, a terra pode se tornar irreversivelmente degradada, forçando comunidades a abandonarem suas atividades agrícolas.

Concentração de terras e o latifúndio do eucalipto

A expansão da monocultura do eucalipto se alinha a uma estrutura de latifúndios, onde grandes extensões de terra ficam nas mãos de poucas corporações. Essas empresas, geralmente voltadas para o setor de papel e celulose, priorizam o lucro sobre a sustentabilidade, limitando o acesso à terra e aos recursos naturais para pequenos agricultores. Isso agrava a desigualdade no campo, concentra riqueza e impede o desenvolvimento de uma agricultura mais diversificada e sustentável.

Como resultado, a dependência do cultivo do eucalipto e do modelo de grandes propriedades reduz drasticamente a quantidade de empregos no campo. Em vez de diversificar a produção agrícola e fortalecer a agricultura familiar, que gera renda para centenas de trabalhadores, o modelo do latifúndio do eucalipto gera pouco emprego e esvazia o campo. E esse é um problema em particular para o Brasil, que possui vastas áreas de terras férteis e propícias para a agricultura, mas as destina, cada vez mais, para uma única cultura.

O impacto ambiental: destruição da biodiversidade

O cultivo intensivo de eucalipto representa uma verdadeira monocultura verde, onde apenas uma única espécie domina vastas áreas de terra, eliminando a rica diversidade natural que caracteriza as regiões brasileiras. A fauna e flora locais perdem espaço, e espécies nativas são ameaçadas pela falta de habitats e pelo esgotamento dos recursos naturais.

De acordo com o conceito do “pé do homem”, citado pelo padre holandês José, quando uma comunidade desenvolve uma agricultura diversificada, garante o sustento e a dignidade de seus trabalhadores, produz alimentos e conserva a natureza. Mas quando a terra é ocupada pelo “pé de eucalipto”, esse potencial se perde. Em vez de prosperidade, gera-se pobreza, êxodo rural e devastação ambiental.

Alternativas e o caminho para o desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento rural sustentável passa pela diversificação agrícola e pelo uso consciente dos recursos naturais. Plantar alimentos em terras planas e férteis, ou promover a agroecologia e a agricultura familiar, são práticas que geram empregos e renda para a população local, mantendo a integridade ambiental. A produção diversificada também oferece segurança alimentar e reduz a dependência de mercados externos, fortalecendo a economia local.

O cultivo do eucalipto, portanto, deveria ser limitado a áreas já degradadas e ser acompanhado de práticas de recuperação ambiental e uso sustentável. Apenas assim o Brasil poderá aproveitar suas terras de maneira equilibrada, promovendo emprego, preservando o meio ambiente e beneficiando a sociedade como um todo.

Em última análise, a monocultura de eucalipto representa uma ameaça ao equilíbrio natural, à distribuição justa das terras e ao desenvolvimento sustentável. Ao invés de apostar em um modelo que esgota recursos, o Brasil deveria seguir o exemplo do “pé do homem” e investir em políticas que incentivem uma produção agrícola diversificada, justa e sustentável.

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