Folha da Bahia

Pílula única para tratar o HIV é esperada até o fim do ano no SUS

A evolução no tratamento para pessoas portadoras do HIV segue proporcionando cada vez mais qualidade de vida para esse público. Com previsão de chegar ao SUS até o final deste ano, o medicamento Dovato, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021, está em fase final de licitação para que comece a chegar aos estoques dos estados Brasil afora.

“O Dovato reúne, em um só comprimido, dois medicamentos: o dolutegravir e a lamivudina. Esse avanço significa tomar apenas uma pílula por dia, deixando o esquema de tratamento com muitos comprimidos para trás. As estatísticas demonstram que essa praticidade aumenta a adesão ao tratamento”, explica a infectologista Ana Carolina D’Ettorres. A especialista ressalta que, no início da epidemia da doença, as pessoas com HIV chegavam a tomar mais de dez substâncias diferentes por dia.

“Incorporar o Dovato ao SUS é um grande avanço, pois além de ser uma medicação altamente eficaz, com raros efeitos colaterais, tem um conforto posológico de ser apenas uma tomada por dia, o que facilita a aderência ao tratamento e garante maior qualidade de vida. A simplificação visa garantir menores chances de efeitos colaterais como lesão no rim e osteoporose, que podem ser causadas pelo tenofovir. É importantíssimo que o médico avalie se o paciente é elegível para esse esquema, considerando o histórico do paciente e condição clínica atual”, alerta.

De acordo com informações do Ministério da Saúde, o Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose,  Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DVIAHV/MS) pretende comprar 10,8 milhões de comprimidos do Dovato em 2023. “Estamos na fase final de licitação e a distribuição aos Estados deve começar até dezembro. A coformulação dos dois medicamentos já incorporados representa um aprimoramento dos protocolos existentes”, afirma o ministério.

Vírus estável

Mesmo não existindo ainda uma cura para a Aids, o tratamento com antirretrovirais garante estabilidade ao vírus do HIV, evitando o aparecimento da doença ou retardando significativamente o seu progresso, prevenindo infecções secundárias e complicações. “Uma pessoa que vive com HIV, e faz o tratamento regularmente, tem uma sobrevida semelhante e até mesmo superior à população que não vive com HIV”, aponta Ana Carolina.

Com o tratamento que é disponibilizado atualmente pelo SUS, o uso diário dos antirretrovirais de forma adequada garante que a pessoa que vive com HIV não adoeça e tenha uma vida sem limitações. Já há algum tempo a ciência vem propiciando vida normal e controle da carga viral baixa às pessoas que vivem com HIV. Entretanto, muitos deixam de seguir as orientações médicas por medo de efeitos colaterais das medicações antigas, que não são mais observados nos medicamentos modernos.

Recentes inovações no tratamento reforçam a possibilidade de maior adesão ao tratamento. Além do Dovato, há o cabotegravir: primeira medicação injetável para profilaxia pré-exposição (PrEP) no Brasil. Aprovado pela Anvisa, tem uma função de prevenção contra eventuais infecções, porém, sem previsão de ser incorporada ao SUS.

“É fundamental que as pessoas busquem orientações com um médico de confiança para tirar todas as dúvidas, quebrar tabus sobre as medicações de tratamento do HIV. Atualmente temos medicamentos modernos, com raros efeitos colaterais, com conforto posológico de uma tomada por dia e disponível pelo SUS. Uma conversa franca e sem medos com o seu médico pode desmistificar muitas ideias antigas e garantir uma excelente qualidade de vida para quem vive com HIV”, pontua Ana Carolina.

Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids da Coordenação Estadual de IST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, que apresenta análises sobre os casos de HIV/Aids, Sífilis e Hepatites Virais, houve um aumento de 60% de 2011 para 2021 de casos diagnósticos (dados de 2021). Verifica-se um aumento da taxa de detecção de Aids em 50%, entre os homens e mulheres de todas as idades, principalmente entre jovens de 20 a 59 anos.

Vale lembrar que desde 2014 o HIV e a Aids fazem parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças (Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016); assim, na ocorrência de casos de HIV ou de Aids, estes devem ser reportados às autoridades de saúde.

Com informações

Marcella Andrade | Atena Comunicação

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